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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A TROPICÁLIA OU TROPICALISMO

Imagine um tempo em que nada podia ser dito; principalmente a verdade. Congresso Nacional fechado e imprensa censurada. Foi num mundo assim, ou melhor, num Brasil assim, aquele da Ditadura Militar (1964-1985), que a Tropicália vicejou.

O tropicalismo nasceu quando um grupo de artistas baianos (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e o grupo Os Mutantes, que contava na época com uma jovem vocalista chamada Rita Lee), se uniu nas apresentações dos festivais de música popular brasileira, promovidos pelas emissoras de TV, entre os anos de 1967 e 1969.

Na impossibilidade de falar abertamente contra a Ditadura em suas canções, os tropicalistas tinham como principal característica o deboche e a ironia. Não faziam suas críticas de oposição ao regime militar abertamente.

Os tropicalistas reunidos na foto que virou capa do disco "Tropicália", considerado um manifesto do movimento

O deboche por meio da atitude na vestimenta e os arranjos e experimentações exóticas nas canções tropicalistas chocavam o público erudito, acostumado com um padrão musical que a tropicália teve a ousadia de quebrar naqueles anos, mudando assim, de forma indireta e por meio da expressão cultural inovadora, as regras e os padrões estabelecidos como normais na música.

O tropicalismo tinha manifestações de oposição política em seu comportamento e expressão musical, porém, as músicas expressavam oposição à Ditadura de forma indireta, ao acrescentar o acorde hilário de um instrumento musical no meio de uma letra séria. As músicas tropicalistas eram caracterizadas pela iminente introdução de estranhos arranjos, ruídos e sons não comuns nos padrões musicais da época.

A grande influência para o surgimento do tropicalismo na década de 60 veio do Movimento Antropofágico das décadas de 1920 e 1930. Ligado ao Movimento da Arte Moderna, que tinha ícones artísticos e culturais como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Anita Malfatti, o Antropofagismo pregava uma absorção das culturas exportadas pelos EUA a e Europa, seguida por uma digestão repleta da introdução de manifestações e valores culturais brasileiros, para em seguida expressar um novo produto cultural modificado e cheio de características nacionais.

A grande diferença entre o Movimento Antropofágico e o Tropicalismo foi que o segundo digeria cultura popular também, enquanto que o primeiro apenas modificava aquilo que era erudito e exportado pelas potências culturais norte americana e européia.


Numa época em que os artistas que faziam oposição ao regime militar eram diretos e incisivos em suas manifestações, o que rendia perseguição, tortura e deportação, o comportamento debochado tropicalista, embora tenha tido contribuições criativas dos maestros Rogério Duprat e Júlio Medaglia, não foi bem aceito pelos intelectuais e por grande parcela da juventude que militava no movimento estudantil de oposição política à Ditadura Militar.

Os tropicalistas foram tachados de alienados por absorverem e fazerem uso de influências culturais dos EUA e da Europa, num tempo em que as manifestações nacionalistas, norteadas pela oposição à Ditadura Militar, não via com bons olhos o que vinha de fora e fugia do tradicionalmente brasileiro.


Com o tempo, os militares perceberam o tom debochado de oposição empregado pelos tropicalistas e, com a prisão e a deportação de Gilberto Gil e Caetano Veloso, o tropicalismo chegou ao fim após uma curta e intensa duração de cerca de 3 anos.


O compositor, cantor, arranjador, ator e eterno tropicalista, Tom Zé

Outras manifestações do tropicalismo também foram observadas nas artes plásticas, no teatro e no cinema, com o chamado Cinema Novo de Glauber Rocha. Atualmente, Tom Zé é um dos principais nomes da Música Popular Brasileira que ainda emprega o estilo tropicalista em suas letras e nos arranjos de suas músicas.

Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br

1 Comentários:

  • Mas depois, décadas depois, veio a "ditadura Tropicalista" :
    Onde grupos oriundos do nordeste sofreram com o despreso, a falta de apoio, dos remanescentes tropicalistas.

    ps. Tom Zé nunca se declarou ou se posicionou como um tropicalista.

    Por Blogger Humberto Firmo, às 5 de maio de 2013 às 08:27  

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